Não estava a aguentar. A chorar, revoltada, angustiada, amargurada e desnorteada entrei no meu quarto, vesti-me, peguei num casaco, num pacote de lenços e sem telemóvel, sem música, sem chave de casa, simplesmente saí.
Eu quase voava enquanto os meus pés percorriam os caminhos familiares da minha cidade cinzenta.
Não via nada, não ouvia nada, não queria saber de nada.
Apenas tinha aquela dor latejante no peito, que me queimava como ferro em brasa e que ameaçava não sair... Ameaçava nunca mais sair.
Respirei fundo, tentei acalmar-me.
Desejei não encontrar ninguém, ser uma sombra invisível para me afogar naquele cinzento, ao mesmo tempo que desejei um rosto e uma palavra amiga.
No fundo, eu só queria cavar dali para fora, tal como tinha cavado de casa. Recordei os países quentes e exóticos que visitei em felizes verões passados e sonhei com uma casa junto ao mar e um pequeno-almoço na cama depois de uma noite de amor.
Continuei em frente sem rumo, até que parei numas escadas degradadas onde me sentei e fiquei pela primeira vez a observar. Não me sentia bem ali, queria estar em casa, mas também não queria voltar.
Vi crianças felizes que abriram um ligeiro sorriso na minha face transtornada, vi velhos a passearem pela rua e vi pessoas a passearem os cães para que este fizessem a sua merda diária.
Ali sentada comecei a olhar para os círculos no chão e a imaginar se estes não poderiam ser a entrada para um Mundo muito melhor, tal como nas histórias e quanto eu não daria para provar o sabor dos meus sonhos.
Ali sentada pensei em Deus.
Pensei no sentido da vida, pensei na morte, pensei no Universo, pensei em Deus.
Pensei em quem nós eramos, nas almas que habitavam dentro de nós, daquele outro que nos completava e na nossa genuinidade. Depois comecei a pensar na morte... Num dia podiamos ser donos do Mundo, no dia a seguir tudo isso podia simplesmente desaparecer. A morte de um velho... Pode ser explicada pelo "grande ciclo da vida", "eu vou para dar lugar a outra mais jovem com uma grande vida pela frente", mas a morte de uma criança é desprovida de poesia e palavras de saudade. Uma criança que morre, nunca se encontrará com a sua alma gémea, nunca proverá o sabor do seu primeiro beijo, nunca rirá horas e horas seguidas da simples alegria de viver. Qual é o sentido de trazer uma alma ao Mundo para isto? Qual poderá ser o seu papel nesta vida? Porque é que estas coisas acontecem? Será que afinal estamos mesmo sozinhos? Será que somos iguais a todos os outros e que por isso aspiramos tanto à glória, notariedade e fama? Esta sede... Esta sede de ser, esta fome de glória, esta inexplicável batalha travada todos os dias pelos nossos sonhos...
"Deus... Confio em ti, mas porque permites que estas coisas aconteçam?"
Não encontrei a resposta à minha pergunta... E acho que vou provavelmente passar o resto da minha vida à procura dela, mas encontrei dentro de mim, algo que me deu esperança e forças para enfrentar de novo a vida com um ânimo diferente... Sobe com uma certeza inabalável, o que nunca antes apenas havia posto em causa. Soube que "às vezes requeria mais coragem continuar a viver" e encontrei em mim uma paz...
Uma paz chamada Fé.
Estou nas tuas mãos.
Confio em ti.
Obrigada pela minha vida.
Tenho Fé em ti Deus.